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Entrevista com Ir. Ana Luiza missionária salesiana na Amazônia

Entrevista com Ir. Ana Luiza Medeiros, missionária salesiana, que vive há dois anos a missão Inter gentes na Amazônia, no distrito de Iauareté, município de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas.

  • Ir. Ana Luiza como você sentiu o chamado à missão?

Desde quando entrei na Congregação senti uma forte atração para a missão. Estar junto com outros povos e culturas,  evangelizar e ser evangelizada por eles. Juntamente com o pedido para os votos, também fiz o pedido para as missões ad-gentes e fiquei à espera da indicação de uma terra missionária.

  • Onde fica sua atual missão, qual foi a preparação para missão?

Com quase três mil habitantes, Iauaretê é hoje o maior núcleo populacional de Terra Indígena no Alto Rio Negro, que fica no médio curso do Rio Uaupés, no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), na zona de fronteira entre Brasil e Colômbia. É conhecida popularmente como “cabeça do cachorro”. É um distrito pequeno com uma área comercial em expansão, uma Unidade de Saúde e conta também com a presença do Exército.  Na cidade temos quatro escolas públicas e também um curso de Enfermagem. A Igreja é representada pela presença dos Salesianos e Salesianas. A minha experiencia anterior, junto com os Bororos e Xavantes em Meruri marcou o meu tempo de espera e preparação de tal forma que quando fui destinada para Iauareté já senti que a minha vida pertencia a eles. Me sinto muito feliz na missão.

  • Como é a vivencia do povo indígena

A predominância é da etnia Tukana, porem é possivel encontrar uma grande diversidade de etnias na região. Numa área próxima temos também alguns que são da etnia dos Hupda. Conserva-se entre eles a prática da pesca, caça e cultivo da terra. O que produzem é para o próprio consumo, existindo ainda a cultura da troca entre as famílias. A oportunidade de emprego presente nessa área está concentrada no hospital, escolas e no pequeno comercio local. Alguns se alistam no exército e por um tempo servem na região.

  • Jovens indígenas, eles têm sonhos, objetivos, qual a prospectiva deles?

Nossos jovens são muito vivos, animados e sonhadores, como qualquer jovem. No entanto, o medo de enfrentar o novo, de ficar longe da família, dificulta realizar seus sonhos e alçar novos voos. Como presença Salesiana, estamos sempre incentivando-os nas conversas, nos encontros, para que tenham coragem de sair para estudar e garantir uma profissão segundo as suas capacidades e desejos. No entanto já presenciamos história de vários jovens que fizeram e fazem a diferença em suas realidades: foram para São Gabriel e outros lugares, estudaram e hoje atuam em sua área profissional, seja em Iauareté ou em outro município.

  • Na convivência com este povo, o que a comunidade tem aprendido?

Somos três FMA em nossa comunidade:  Linh- Vietnamita,  Luz Inês- Colombiana, e eu, brasileira. Todas estamos aprendendo a língua nativa, o tukano, para estarmos mais próximas da realidade deles. Como religiosas, para nós é essencial a doação de si.  É muito lindo ver como este povo vive a partilha, como têm o senso da vida comunitária. É uma lição de vida para qualquer ser humano. Temos a oportunidade de participar com eles  dessa convivência comunitária todos os sábados, após a missa, quando eles fazem a partilha da kianpira, uma comida tipica.  Como comunidade religiosa, vivemos a simplicidade na alimentação, aprendendo com eles alguns pratos que fazem parte da cultura.

  • A Igreja viveu o Sínodo da Amazônia, como sente-se a sua atuaçã

Sem dúvida o nosso povo ficou muito comovido quando o Papa Francisco anunciou o Sínodo da Amazônia. Concordamos com ele que “não haverá uma ecologia sã e sustentável, capaz de transformar seja o que for, se não mudarem as pessoas, se não forem incentivadas a adotar outro estilo de vida, menos voraz, mais sereno, mais respeitador, menos ansioso e mais fraterno” (QA 58).

  • Qual a sua mensagem conclusiva?

Não só o povo Tukano, mas os povos indígenas, na sua maioria, são povos muito acolhedores e mestres na arte do cuidado  da mãe natureza.  Convivermos com eles é uma verdadeira escola de vida. Me sinto muito agraciada por Deus  ter me dado esse maravilhosa oportunidade. Agradeço a Ele, todos os dias pelo dom da vida, pela linda natureza que contemplamos e por ter dado ao mundo os guerreiros guardiães da floresta.  Nós nem imaginamos como é maravilhoso o nosso país e como precisamos defender a Amazônia, que é o nosso maior patrimônio cultural. Vamos todos juntos cuidar da Casa comum.

Por Ir. Metka Kastelic

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