No início da tarde do dia 26 de junho de 2017, na Casa Santa Teresinha, São Paulo, um anjo anunciou para a nossa IRMÃ EDMÉA BEATRIZ BATTAGLIA que era o seu esperado tempo do encontro com o Infinito…e ela partiu silenciosamente.
Edméa nasceu, no dia 28 de março de 1923, na cidade de Ribeirão Preto. Foram seus Pais, o senhor José Alfredo Battaglia, brasileiro, filho de italiano e de Dona Rosália Guaraldo, italiana, que viera para o Brasil com sete anos. Vindas como emigrantes para nossa Pátria, as duas famílias estabeleceram-se na região de Campinas, seus avós maternos na agricultura e os paternos, no comércio. Tanto sua família do lado paterno, como a do lado materno era uma família de músicos e os rapazes das mesmas frequentavam as casas uns dos outros. Assim o Sr. José Alfredo conheceu Dona Rosália quando ela teria por volta de 13 anos e foi “amor à primeira vista”, porém, iriam casar-se dez anos mais tarde, no dia 24 de maio de 1922, na matriz velha de Campinas. O jovem casal constituiu uma família abençoada por Deus e enriquecida por duas filhas, Edméa e Nelma.
Sua infância feliz e despreocupada foi vivida na Rua Duque de Caxias, em Ribeirão Preto, quase ao lado do Colégio das Irmãs FMA. O Sr. Alfredo, seu Pai, era um homem manso, um artista que transformava a madeira em móveis artísticos e de fino gosto. Sua Mãe, Dona Rosa, mulher ativa, decidida, enérgica, piedosa, enfermeira sempre disposta a atender à vizinhança.
Edméa fez os primeiros estudos no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de sua cidade e o Ginásio no Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Guaratinguetá. Muito cedo, entre doze e treze anos, sentiu o chamado para a vida consagrada salesiana. Numa entrevista, assim se referiu à origem de sua vocação: “Na verdade, eu sempre gostei muito do trabalho apostólico. Estou em um colégio salesiano desde antes dos três anos, acompanhei de perto o trabalho das Irmãs do meu Colégio, tínhamos muita ligação; é lógico que com três anos eu não estava pensando em ser religiosa, mas fui me acostumando a ver que as Irmãs faziam e depois, quando eu cheguei à idade de pensar alguma coisa, eu já tinha decidido o que queria. Na verdade, quem chama é Deus então quer dizer que senti Deus me chamando. Minha família aceitou (a decisão) até com muita alegria (…) Quem sentiu muito a minha saída foi meu avô, pai de meu pai, porque ele morava com minha família e eu era a neta “preferida”.”
No dia 07 de fevereiro de 1936 foi admitida como aspirante no Colégio do Carmo e, quatro anos depois, no dia 02 de julho, iniciou o Postulado e, na Festa de Reis do ano 1941, recebeu o hábito de Noviça na Casa Nossa Senhora das Graças do Ipiranga, em São Paulo.
Depois de ter vivido, durante dois anos, o tempo de iniciação da vida religiosa e assumir a identidade de FMA, no dia 06 de janeiro de 1943, emitiu os primeiros votos, prometendo se doar, na alegria, a Deus pela salvação dos jovens.
No período antes dos Votos Perpétuos, fez parte do Colégio de Santa Inês e do Pensionato Santa Teresa como estudante, assistente, professora e animadora de Oratório. Como jovem FMA, recebeu o título de Bacharel em Letras Neolatinas pela Faculdade Sedes Sapientiae da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, especializou-se em Literatura Brasileira, cursou especialização em Língua e Literatura Francesa e, alguns anos mais tarde, recebeu a graduação em Orientação Educacional e em Ciências Religiosas.
Depois de ter vivido intensamente os seis primeiros anos como consagrada salesiana, na alegre certeza de ser chamada a participar da missão educativa do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, Irmã Edméa declarou publicamente que se entregava a Deus, de modo irrevogável, para sempre, ao serviço da juventude de acordo com o sonho de Dom Bosco e de Madre Mazzarello.
Irmã Edméa procurou ser “serviço” pelas Comunidades em que viveu: Instituto Santa Teresa de Lorena por duas vezes; Colégio de Santa Inês em quatro ocasiões; Instituto Coração de Jesus de Santo André exercendo as funções de assistente geral, conselheira escolar, bibliotecária, diretora, conselheira e secretária inspetorial, professora universitária, procuradora da Inspetoria.
Dos 94 anos de vida, Irmã Edméa tem em sua caminhada 74 anos de vida religiosa entregues à educação da juventude sendo sempre, por ela, correspondida com muito carinho, respeito e bem querer. Uma educadora leiga, assim a descreveu: “Como mestra, conduziu sempre seu trabalho com a dedicação, a competência, a dignidade e a modéstia que lhe eram peculiares. Nunca deixou de acreditar no potencial de seus alunos, estimulando-os e exigindo deles o que de melhor cada um podia dar para a construção do próprio conhecimento. Como educadora, na interação professor-aluno, sempre se portou com o devido respeito ao jovem, ouvindo e fazendo do diálogo o instrumento de formação e fortaleza de caráter de seus alunos e, por isso, mesmo, recebendo em troca o respeito e a admiração de cada um deles. Ainda como educadora, no relacionamento com os colegas de magistério, sua cordialidade, seu equilíbrio e discernimento sempre colaboraram e fortaleceram a equipe nas tomadas de decisões a proposito das questões educativo-pedagógicas. Assim, educando gerações e deixando nelas marcas de sua firmeza e princípios, Irmã Edméa conquistou o carinho e a amizade de todos aqueles que tiveram a feliz oportunidade de tê-la como mestra, companheira e amiga”
Irmã Edméa também teve importante papel na história da CIB – Conferência das Inspetoras do Brasil – como secretária eficiente e competente durante 13 anos.
Como Irmã entre as Irmãs, Irmã Edméa sempre recebeu a todas com um sorriso aberto, com simpatia, procurando servir como escreveu em outubro de 2003: “desde a década de 50 (…) pensei que realmente o “servir” seria um programa de vida para mim.(…) Em geral, tenho sido fiel ao “serviço” procurando, embora sem perfeição, atender aos outros com presteza, sem fazer pesar, acreditando estar servindo ao próprio Deus no próximo.(…) Nem sempre é fácil, (…) mas sinto então a mão de Deus me segurando e o sorriso bom e encorajador de meus Pais que foram sempre modelos para mim no serviço a todos os membros da família, aos amigos e mesmo aos desconhecidos…Agarro-me no versículo 9 do Cap. 12 da II aos Coríntios: “Basta-me a minha graça”, em geral paro aí, mas o final do versículo não fica esquecido: “porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força”.
Fundamentou sempre sua vida consagrada salesiana no profundo amor à Eucaristia, Maria Auxiliadora, Dom Bosco, Madre Mazzarello. Foi fiel às Constituições do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora e acreditou como escreveu “…tenho certeza de que acredito plenamente na presença de Deus na minha vida e na de cada pessoa de quem me aproximo e na companhia de Nossa Senhora em todos os momentos”.
O seu grande desejo era SER como deixou anotado: “ Sinto que é preciso, antes de tudo, SER e não é fácil; quantas faces obscuras, desejos desencontrados, pretensões, desconfianças, discriminações, etc…mas sobretudo o SONHO UTÓPICO a alcançar: SER, a luta para chegar lá…com humildade, simplicidade e esperança…Quanta luta a enfrentar no cotidiano cheio de miudezas que não podem escapar desapercebidas. Os grandes momentos são raros, mais percebidos e mais satisfatórios, porém, são preparados pelos pequenos que ninguém vê, que nem eu própria sei avaliar, mas que constituem o emaranhado da vida e…acabo chegando sempre à conclusão de que VIVER É UM DESAFIO que é preciso superar.”
Irmã Edméa, nós temos tanto para lhe falar, tanto para lhe agradecer, mas, como dizia o poeta, com palavras não sabemos dizer. Apesar da dor da despedida, damos graças a Deus por você ter feito parte de nossas Vidas! Com certeza, você pôde cantar, com a maior poetisa brasileira: “A serviço da vida vim, a serviço da vida estou!”
Interceda por nós, suas Irmãs, pela sua sobrinha Rita e família, e por todos que amou e por todos por quem foi amada.