O Comitê de Comunicação da Rede Salesiana Brasil participou do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom), realizado em Manaus entre 25 e 28 de setembro de 2025. O encontro reuniu comunicadores de todas as regiões do país e aprofundou o tema “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa”
O encontro com a Amazônia e a comunicação
Para Eduardo Schmitz, delegado de Comunicação da Inspetoria Salesiana de Porto Alegre, a experiência trouxe novos olhares para a missão salesiana. “É impossível vir até Manaus e vir só para o evento. A gente acaba fazendo uma experiência também com o entorno do evento e conhecendo as realidades. Isso serve como um revigorar da nossa caminhada na comunicação.” Ele acrescentou que contemplar a floresta e os rios também se torna forma de oração e fortalece o compromisso de levar a comunicação para além das fronteiras da Igreja, conectando-a com os debates da sociedade. “Através da contemplação, da criação, e aqui é um local muito propício pra isso, principalmente quando a gente se depara com a grandiosidade da floresta, dos rios, e tudo isso serve pra gente como um revigorar da nossa caminhada na comunicação, na nossa comissão, de família salesiana nas nossas inspetorias, e claro, trabalhando especificamente a temática da comunicação, é oportunidade pra gente ter novos olhares, como a própria proposta do Muticom sugere, não olhar pra dentro da igreja ou não olhar pra dentro dos nossos processos de comunicação, mas olhar pra fora também, é o que o mundo fala sobre a comunicação eclesial, como a comunicação eclesial pode se inserir nos temas da atualidade. Especificamente aqui tratando sobre a situação da ecologia integral”.
Comunicação que mobiliza
Igor Gomes da Silva, gerente de Comunicação e Marketing da Inspetoria São João Bosco, enfatizou a centralidade da comunicação diante da crise socioambiental. “A comunicação tem papel central nesse processo: conscientiza, mobiliza e inspira boas práticas de sustentabilidade. Quando orientada pela ecologia integral, ela se torna instrumento de transformação e de justiça socioambiental.” Ele defendeu que a comunicação precisa ser estratégica e comprometida, pois seu alcance pode gerar mudanças concretas no modo como a sociedade cuida da casa comum.
Sustentabilidade como pauta permanente
Cícero Albuquerque, delegado de Comunicação da Inspetoria Madre Mazzarello, afirmou que o Muticom reforçou a necessidade de tratar o tema de forma estrutural. “Sustentabilidade tem que estar estruturalmente em todas as nossas ações, nossas atividades.” Para ele, os salesianos precisam assumir esse debate não apenas como pauta de evento, mas como dimensão formativa presente em todos os espaços educativos e pastorais. “Um assunto que a gente tem que trazer para o centro das nossas discussões e levar isso para um caráter tanto formativo quanto informativo nas nossas presenças.”
Amazônia em sua grandeza
A Irmã Luzinete Freitas, coordenadora de Comunicação da Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, destacou o aprendizado proporcionado por pesquisadores e jornalistas que conhecem a realidade local. “A mídia aberta trabalha a Amazônia com muita ficção, e o 14º mutirão traz realmente em profundidade a realidade amazônica.” Ela observou também que a riqueza do bioma, comparada a um continente dentro do Brasil, desafia os comunicadores a traduzirem sua complexidade sem cair em simplificações. “Acho que o grande ganho para os jornalistas, que são muitos do restante do Brasil, e para qualquer outro participante, é o contato sobre a veracidade dos fatos, porque a mídia aberta, publica muito mito sobre a Amazônia, trabalha a Amazônia com muita ficção, e o 14º MUTICOM traz realmente, em profundidade, a realidade amazônica”.
Superação de estereótipos
O padre Francisco Lima, de Manaus, refletiu sobre o contato dos comunicadores de outras regiões com a realidade amazônica. “Levar uma imagem diferenciada, não caricata, mas real com os valores que nós temos aqui, com dificuldades e fragilidades, isso é a primeira coisa.” Ele ressaltou ainda que o Muticom favoreceu o encontro de culturas, permitindo aos participantes perceberem a Amazônia não apenas como patrimônio brasileiro, mas também como bem de relevância global. “Eu acredito que esse contato com a Amazônia passa por diversos níveis de experiência. O primeiro nível é aquele básico, que é o fato de ter se deslocado do próprio lugar e vir até Manaus. A gente já tem contato com pessoas de outras culturas, outras linguagens, outras paisagens, outras expressões comunicacionais também. Depois do próprio evento, ele nos trouxe uma série de temáticas, sejam elas de reflexão, de estudo, de aprofundamento, mas também de experiências que nos ajudam a compreender e a olhar um pouco mais a Amazônia a partir de outras perspectivas para que a gente”.
Impacto de novas narrativas
A Irmã Maike Loes, Coordenadora de Comunicação da Inspetoria Nossa Senhora Aparecida, relatou que um dos momentos mais marcantes foi o testemunho de um jovem indígena. “O testemunho de um jovem pataxó no mundo digital, unindo a vida na aldeia e a cultura do seu povo, foi muito grandioso”. Ela afirmou que a experiência provocou os salesianos a se abrirem para novas linguagens e a repensarem a comunicação em diálogo com realidades diversas. “Eu estou extremamente impactada e eu vejo assim o quanto ainda nós salesianos e salesianas precisamos nos abrir e crescer nessa dimensão amazônica que é a proteção da vida, do cuidado, da casa comum, começando pelo cuidado com as pessoas”.
Caminho em sinergia
Pedro Barreto Elias, da Inspetoria de São Paulo, destacou a importância da unidade entre comunicadores salesianos. “Eu sempre acho que todo mundo sai com várias ideias, com várias reflexões, e também esse pensamento unificado que a gente tem muitas vezes sobre a comunicação salesiana, ajuda a gente a caminhar em sinergia.” Para ele, o encontro foi oportunidade de partilha de ideias e reflexões, mas também de confronto com novas realidades. “A temática é essencial: a reflexão sobre a casa comum, sobre como a gente cuida de tudo, como a gente dialoga com isso e principalmente como que a gente comunica sobre isso é muito importante. Acho que na sociedade a gente está numa disputa de narrativas e isso tem afetado várias pautas importantes porque muitas vezes na defesa de um posicionamento fixo a gente acaba até esquecendo de colocar algumas coisas importantes, alguns detalhes, algumas questões que são muito importantes para a formação das pessoas sobre a discussão, então isso também faz toda a diferença”.
Ecologia integral como tema comum
A Irmã Antônia Kelly Gaioso, coordenadora de Comunicação da Inspetoria Maria Auxiliadora, do Nordeste, afirmou que a ecologia integral atravessa todos os territórios, mesmo em contextos distintos. “Cada região do Brasil tem sua peculiaridade quando busca vivenciar essa ecologia integral. Não é que tem tanta diferença, mas existem pontos que são incomuns, tanto para o lado positivo como pontos que são comuns para aquilo que a gente deve crescer dentro da comunicação”. Ela observou que o desafio da comunicação está em traduzir as lutas locais sem perder de vista a dimensão universal da sustentabilidade. “Para nós, como Igreja, a comunicação não é apenas informação, mas também evangelização. Diante do que vivemos hoje, precisamos refletir sobre o que de fato comunicamos e se isso corresponde ao que evangelizamos. Para mim, este momento representa um repensar da comunicação, de nossas práticas e das mensagens que transmitimos”.
Preces compromisso: oração e decisão
Na celebração de encerramento, os comunicadores assumiram compromissos em forma de oração. Inspirados no Cântico das Criaturas, eles agradeceram pelas dádivas da natureza e pediram força para transformar a comunicação em instrumento de cuidado. As preces trouxeram uma promessa: “Protegeremos a terra e não a depredaremos; semearemos a beleza, e não a poluição nem a destruição.” Os participantes se comprometeram a anunciar a paz, resgatar os abandonados, denunciar sistemas que sacrificam pobres e defender a vida em todas as suas expressões
Comunicação que testemunha
A mensagem final do Muticom reforçou que comunicar sobre a criação é também questão de fé. “Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das mudanças climáticas, do desmatamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade”
O Muticom deixou aos comunicadores salesianos a tarefa de fazer da comunicação não apenas instrumento de evangelização, mas também de conscientização sobre a importância de que cada um seja um agente de defesa da casa comum.
Fonte: MSMT

