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14º ENCIS fortalece o trabalho das FMA nos Meios Populares

De 21 a 24 de setembro, a Casa de Retiros Assunção, em Brasília (DF), sediou o 14º Encontro Nacional das Comunidades Inseridas nos Meios Populares (ENCIS). Este ano, o evento trouxe o tema “Em SINODALIDADE, atuar com coragem na realidade social e eclesial, sendo Mornese em saída, rumo às periferias a favor da vida” e reuniu representantes das 4 Inspetorias Salesiana das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) do Brasil, entre inspetoras, formadoras, formandas e irmãs salesianas cuja missão está inserida nos meios populares.

Quando perguntada sobre quais seriam as expectativas de contribuição do ENCIS dentro das Inspetorias, Ir. Amélia de Assis Castro, responsável pela coordenação do evento, responde: “A partir desse encontro é a renovação de vida, da missão, da missão enquanto irmãs inseridas nos meios populares; mas renovadas, com mais entusiasmo, com mais vontade de acertar, porque para trabalhar com o povo, com adolescentes, com crianças, […] você tem que estar sempre buscando renovar, buscando: ‘O que a Igreja está pensando?’, ‘Qual é a orientação da Igreja?’, ‘Qual que é a orientação da congregação?’, ‘Qual é a nossa orientação como Brasil?’. Então daqui nós vamos tirar quais são os encaminhamentos”, diz Ir. Amélia.

O primeiro dia do 14º ENCIS contou com a presença da Visitadora e Referente da Conferência Interinspetorial das Filhas de Maria Auxiliadora do Brasil (CIB) junto ao Conselho Geral de Roma, Ir. Paola Battagliola, a qual fez uma participação na abertura. A acolhida foi protagonizada pela Ir. Teresinha Ambrosim e, após o jantar, sob o comando da Ir. Madalena Scaramussa, o grupo fez memória do último encontro, ocorrido em 2019, além de terem uma visão geral da programação e combinados, com a Ir. Amélia Castro.

Já o segundo dia contou com a presença do Sociólogo da Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental, Frederico Santana Rick, o qual, pela manhã e início da tarde, trouxe uma palestra de contextualização da Conjuntura brasileira. Após o almoço, sob o comando da Ir. Alaíde Deretti, as participantes contaram com a palestra “Mornese em saída rumo às periferias existenciais, na sinodadlidade”, além de uma iluminação bíblica com a Ir. Tea Frigério.

O penúltimo dia do 14º ENCIS contou com a Coordenação da  Ir. Orminda e, novamente com a Ir. Tea Frigério, o dia contou com mais uma iluminação bíblica.

Fechando o Encontro Nacional das Comunidades Inseridas, no domingo (24), o grupo fez um Tour pela cidade de Brasília, passando por monumentos históricos como a Catedral e a Torre de TV, além de uma visita ao Santuário Dom Bosco, onde as irmãs salesianas puderam visitar o cripta do Santo dos Jovens e a imagem de Madre Mazzarello, além de participarem da missa.

De volta às suas localidades, as expectativas são grandes: “Eu acredito que as que vieram aqui, chegando [de volta], vão trabalhar na comunidade com as demais que não puderam vir, envolvendo todo mundo para que, realmente, o ENCIS não fique no papel, mas que seja transformado em vida”, comenta Ir. Amélia.

Conheça um pouco das Comunidades nas quais algumas Irmãs Salesianas que participaram do 14ª ENCIS estão inseridas:

Ir. Rita de Cássia Fonseca da SilvaInspetoria Nossa Senhora da Amazônia

Inserida nas Comunidades de Povos Indígenas (23 etnias)

“O Encontro do ENCIS é enriquecedor, porque ele traz uma realidade de Brasil, como está o andamento das várias realidades, porque o nosso Brasil é amplo. A nossa Inspetoria, Nossa Senhora da Amazônia, engloba 3 estados da região norte e só ali a gente já vê a dificuldade que é de encarar, de trabalhar as várias realidades lá. Eu, no caso, estou com os povos indígenas, então para mim é enriquecedor escutar, como eu escutei hoje, toda essa conjuntura de realidade do Brasil. […] Essa articulação entre as irmãs, essa partilha de vida enriquece cada uma de nós […] a gente tem que caminhar juntas no carisma salesiano, que é o nosso carisma, então é enriquecedor, porque a gente vai sair rumo às periferias das várias realidades. No nosso caso, a Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, mais ligada aos povos indígenas.

Um desafio muito grande que a gente está enfrentando agora é todo esse olhar que tem para o lado da Amazônia, mas de fato que não está chegando na base. Eles coletam assinaturas, coletam vários desafios que têm lá. Não sei de ondem vem as ONGs e aparecem tantos outros querendo ajudar que, de fato, lá mesmo no local, não chega essa ajuda. Então a gente tem um desafio muito grande de lutar com eles para que essa ajuda chegue lá, lá onde é preciso. Nós estamos só na calha do Rio Negro, tem outros indígenas nas calhas de outros rios que não recebem o mesmo apoio dos nossos, que estão na marcha, estão na luta, têm organizações, estavam aqui por Brasília caminhando na Marcha das Mulheres… e tem outros povos que são isolados, os que mais precisam e não chega. A Amazônia é enorme e os povos distribuídos nos rios tem muitos que não têm ainda nem contato. E a gente vê uma burocracia tão grande aqui fora e lá uma vida tão simples. É um contraste! Então é difícil, mas há a luz e quando a gente se encontra com as irmãs no 14º ENCIS, a gente sente uma luz que está sempre ali a caminho. Nós estamos caminhando como Inspetoria e a gente quer somar mais força ainda para fazermos algo mais firme, uma coisa que, de fato vai chegar nas bases.

A gente agradece à Rede [Rede Salesiana Brasil], porque ela contribui muito com os nossos projetos, caso contrário, não seria possível ter essa dinâmica lá com eles, porque é muito alto o valor das nossas viagens. Para eu ir para a minha comunidade, Pari-Cachoeira, são 350 litros de gasolina, mas aí, tenho que voltar e enfrentar agora, com os rios secos, duas cachoeiras brabas. Mas a gente enfrenta tudo.”

Ir. Maria Imelda V. EstrelaInspetoria Madre Mazzarello

Favelas de Belford Roxo

“Eu cheguei a pouco tempo e estou tratando de vivenciar esta parte de unificação como nas outras inspetorias. Morei em Mato Grosso, com os indígenas, lá trabalhamos com os Xavanti e Bororo, e eu penso que agora a Inspetoria nova tem que acolher as diferentes realidades de jovens que temos, que são esta parte indígena, esta parte agora que conheci o Espírito Santo, a parte da universidade que é outro contexto diferente, a parte das obras sociais que também é muito diferente. Para mim, tem que abraçar todos os jovens nas diferentes características de onde eles se encontram e é um processo que todas nós temos que fazer […] Agora, estou trabalhando no Rio de Janeiro, em uma favela de Belford Roxo, e é um conflito diferente, porque ali é bala e estão na pobreza intelectual e cultural muito forte. Chegam ali na obra social crianças de 09, 10, e agora 12 anos, que não sabem ler, escrever, algumas às vezes só o próprio nome e, para mim, isso foi um impacto muito forte. Mas também conheci o Espírito Santo onde temos Universidade e veio o nível, a relação é muito diferente, o ambiente onde as irmãs estão é outra qualidade de trabalho, outra sociedade, outro encontro e nós sempre devemos estar como Inspetoria preparadas.

Agora que estamos fazendo esse movimento de nos inculturar na cultura dos indígenas, dos pobres marginalizados e dos intelectuais que também têm essa pobreza do ambiente, da acolhida […], não é diferente aquele que tem, daquele que não tem. É muito doloroso ver os jovens com as armas. Nós vemos muitos jovens que não têm essa parte de acompanhamento, estão no tráfico, nas drogas muito jovens. Por exemplo, Belford Roxo é muito difícil, inclusive para chamar um Uber, não querem ir, porque é uma situação muito difícil quando se iniciam os tiroteios e nós estamos lá no meio disso tudo. Então a obra social [Crescendo Juntos] é muito reconhecida. Eu vejo que os mesmos traficantes cuidam de nós e cuidam dos educadores, então eles já conhecem muito a obra das irmãs salesianas, mas também nós somos o rosto da igreja.”

Ir. Silvânia Cássia PereiraInspetoria Nossa Senhora Aparecida

Trabalho com mulheres na economia solidária

Esse encontro, depois de uma pandemia, de deixar as pessoas meio desestruturadas, sem esperança, vem trazer para a gente uma grande força, porque você conviveu em um mundo com medo dessa doença que desestabilizou a parte econômica de inúmeras pessoas, mas a gente sabe que engrandeceu a de outras. Então, o contexto diferente que você tem que entender e se depara, por exemplo, com uma realidade na qual eu vivo, […] bastante pobre, uma pobreza bastante diferente daquilo que eu conheço de São Paulo, porque ali nós temos um programa grande que tem e existe em outros lugares.

Eu, por exemplo, preciso fazer um preparo mental onde eu atendo, onde a maioria são mulheres com seus filhos, em um bairro pobre do Rio Grande do Sul, e com muita depressão. A gente percebe que isso não acontece somente ali. É possível verificar que a maioria das pessoas que são depressivas não é só em uma classe desfavorecida que você vai encontrar, mas muito mais nessa classe, porque a violência doméstica é muito grande, como também a utilização de drogas. Quando você se depara com tudo isso e se pergunta: ‘onde eu vou buscar minha resistência? ’, é em um encontro igual a esse! A gente precisa, por exemplo, saber o que acontece no meio político, da nossa conjuntura atual e ver luz nesse caminho para fazer uma luta.

A gente tem nesse ENCIS uma pedagogia de conteúdo. A gente traz primeiro no ENCIS a história de como começou. O ENCIS na resistência das irmãs diante do trabalho nas periferias em todo o Brasil. Não é esquecido, é feito todo esse resgate da história! Isso dá muita força para quem já está e para quem está chegando agora. É possível ver uma juventude naquele local. São pessoas que vão clareando o que é essa análise de conjuntura para que nesse meio onde nós estamos, seja possível fortificar aquilo que é em defesa da vida, e não nos enganemos com outras coisas.   

Para mim, para a Inspetoria, é como se fosse uma luz. E nós temos irmãs na Inspetoria hoje que é a primeira vez que vieram para o ENCIS. É uma iluminação para o nosso trabalho ser mais aquilo que Dom Bosco quis que fossemos mesmo: ‘bons cristão e honestos cidadãos’, defender o direito, estar no meio do povo.

Nós somos chamadas a estar e a sofrer junto com o povo. A ter essa empatia para que a gente possa também ajudar, porque se você não tem empatia com o outro na realidade em que ele está, você não consegue dar força, pois nem tudo a agente consegue fazer. São realidades que a gente não consegue mudar, mas a sua presença é importante. Eu trabalho com mulheres na economia solidária e tem dias que elas falam assim: ‘Irmã, a senhora é igual Jesus Cristo, porque só se aproximou dos coxos e aleijados’, porque a maioria delas têm problemas de depressão e dores que desencadeiam outras coisas. Nessa realidade que estou, eu partilho que o que mais me interroga é o desejo desse grupo sofrido se fortalecer economicamente no Bolsa Família e em um afastamento de saúde. E parece que você diz assim: ‘parece que eu não estou fazendo nada, né?’, mas tudo tem o seu caminho!

Aquilo que a gente vivenciou hoje, da análise de conjuntura, fortalece a gente. E agora nós estamos falando da nossa realidade, de onde nós nascemos e qual foi esse caminho de resistência da própria fundadora juntamente com Dom Bosco. Assim que nos fortalecemos e respondemos aquilo que Dom Bosco quis da gente: um monumento vivo de gratidão a Nossa Senhora lá no meio do sofrimento.

Não que a gente não valorize – há uma diferença das classes – não é esse! Mas o olhar da gente deve ser para esse povo. E quando a gente está na escola, a gente tem que olhar de alguma forma esses jovens pois eles serão os nossos braços mais tarde para mudar uma sociedade.” 

Ir. Maria de Fátima CunhaInspetoria de Maria Auxiliadora

Comunidades Eclesiais de Base (CEB)

Esse é o 11º encontro que eu participo, encontro de periferias que eu estou. Eu tenho a sorte da Congregação me favorecer essa oportunidade de ser inserida no modo popular, que é um privilégio muito grade. Ao todo, eu tenho 30 anos trabalhando nas periferias de educação popular.

Eu quero dizer que a gente é uma escola de vida, pois trabalhar com o povo é uma escola de vida, essa cultura alegre, bem acolhedora. Eu, nordestina, sinto assim, uma cultura muito acolhedora, de festa, de alegria e de resistência em frente aos desafios e aos sofrimentos […] É um aprendizado trabalhar e viver com esse público. Somos uma comunidade de três irmãs e a gente vivencia com eles uma simplicidade de vida, se encontrando em um mercadinho, na farmácia – isso quando tem farmácia no bairro – nas calçadas, às vezes a gente realiza um bate-papo e toma um café, pois essa acolhida é algo muito próprio deles.

São muitas lições de vida que nós encontramos e adquirimos e todo esse percurso, desde a minha formação, eu tive a oportunidade de estar com o povo, e eu digo que é voltar às minhas raízes, porque eu sou do povo, sou de comunidade simples, sou de uma família simples, de 10 filhos, sendo que sou a caçula, e resolvi ser a seguidora de Madre Mazzarello e Dom Bosco pela convivência com as irmãs no oratório. Eu sou uma vocação oratoriana e, chegando no meio do povo, eu sempre trabalhei em Comunidades Eclesiais de Base (CEB), e é lá que eu me identifico como irmã salesiana, porque esse novo jeito de ser igreja me encanta. É para a espiritualidade das CEB, da partilha da vida, da festa, da luta e da defesa da vida que eu estou aqui.

O encontro que estamos realizando hoje, esses encontros nacionais de comunidades inseridas no meio popular, só faz fortalecer a minha opção. Eu digo que a comunidade inserida, é uma terceira vocação. A minha primeira vocação é a vida, um dom de Deus. A segunda vocação é a religiosa salesiana. E a terceira é a vocação religiosa inserida no meio popular, que Deus me concedeu essa graça. Com mais de 40 anos de vida religiosa, eu peço a Deus para eu ser fiel ao meu povo até o fim, nessa luta, nesse desejo de devolvê-los a dignidade.

O nosso trabalho na Bahia, onde eu resido, isso na Diocese de Juazeiro da Bahia, tem atualmente passado por uma situação de injustiça e de negação de direitos ao povo, sobre tudo ao povo rural, pois nós trabalhamos mais na zona rural. Estamos na periferia da cidade, um bairro realmente abandonado […], mas nós estamos ali juntamente com o povo. Eu sempre digo assim: porque o espírito da inserção é justamente encarnar-se, inserir, então o encarnar-se é exemplo do próprio Jesus Cristo que se encarnou no meio do povo. Ele quis se fazer gente no meio do povo. Essa proposta de vida é também estar no meio do povo e devolver a vida, a dignidade. É muito difícil! A Comunidade Ribeirinho está atravessando uma situação que exige de nós o profetismo. O bispo tem sido muito corajoso diante das invasões de pessoas que chegam nas terras já demarcadas, eles chegam e entregam papéis como se aquelas áreas já tivessem sido compradas, porque, abaixo da casa do povo, está descobrindo minério, e ficam dizendo ao povo que vai ter que sair.

É com esse povo que a gente está lutando, devolvendo a segurança e o direito de vida. Têm irmãs que trabalham com a juventude da diocese, outras na Infância Missionária e, também, trabalhamos na formação de leigos porque nós estamos devolvendo os leigos os dons que estão adormecidos, fazendo com que eles possam acordar, pois eles têm dons: como celebrantes da palavra e animadores de comunidades. Essa é a nossa proposta: fazer com que as pessoas tenham vez e voz. Dar voz ao povo como o profeta Isaias diz: ‘Nosso dever é dar voz ao povo’, de devolver a voz a cada um deles. Eu fico muito feliz porque estou no meio das pessoas onde a gente forma uma família com o povo. Estamos ali querendo somar, não estamos ali como professoras, estamos fazendo com eles, nesse caminho da sinodalidade.

Esses encontros nacionais só fazem nos fortalecer. É muito bom a gente perceber que outras irmãs, nessa caminhada, estão lutando pela partilha de vida. Quando se socializa experiências, isso nos enriquece, nos fortalece, e a gente ainda diz assim: quero mais anos de vida, para poder ser mais no meio do povo. Não fazer, pois a gente é no meio do povo! A gente só soma. Como salesiana, sou muito feliz!” 

Por Equipe de Comunicação da Rede Salesiana Brasil (RSB)

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